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A Comunicação Não-Violenta pode silenciar ou revitimizar mulheres?

Recentemente a psicanalista e psicopedagoga Thais Basile postou uma crítica à Comunicação Não-Violenta, alegando que ela poderia ser utilizada para silenciar ou revitimizar mulheres em situações de abuso. Ela cita uma passagem do Livro em que o Marshall coloca uma mulher vítima de es.tu.pro de frente com seu algoz, de forma que ela possa "empatizar com ele". Eu sou uma estudiosa voraz dentro da minha área de atuação e tenho um olhar muito crítico para reconhecer machis.mo ou manipulações em teorias, e curiosamente, esse trecho me "passou batido". Fiquei realmente surpresa quando reli o texto pela perspectiva dela! E também fiquei refletindo sobre o porquê eu "relevei" esse trecho. Vamos às minhas considerações: Para mim, que conheço a CNV em profundidade, com todo seu referencial teórico e filosófico, ficou evidente a priori que aquela situação só aconteceu porque partiu de um desejo da vítima e após uma investigação muito cuidadosa sobre quais necessidades ela queria atender com aquela estratégia, bem como com considerações se haviam formas melhores de fazê-lo. Não posso afirmar que isso realmente aconteceu, porque eu não estava no tal evento, mas compreendendo o que embasa a linha de raciocínio do Marshall, provavelmente foi esse caminho que ele seguiu. E é o caminho que eu sigo quando compartilho a CNV em cursos ou faço atendimentos individuais e mediações e que provavelmente os demais facilitadores comprometidos com a CNV e com uma prática responsável e ética fazem. A CNV é baseada na Abordagem Centrada na Pessoa e também muito influenciada pela pedagogia de Paulo Freire. O que isso significa?


Que o que orienta a prática é um processo de fortalecimento da autonomia das pessoas envolvidas, quanto menos o facilitador, terapeuta, orientador, educador, etc. interferir com seus valores, pré-conceitos e ideias, melhor. Logo, não se dá conselhos, não se diz “o que o outro deve fazer”, não se influencia o outro com nossos pontos de vista e valores pessoais (por exemplo algumas religiões cristãs que pregam a importância do perdão, da submissão das mulheres, etc.).

O caminho é sustentar o estado de presença, escuta e acolhimento de forma a estabelecer condições para gradativamente auxiliar a pessoa a identificar com clareza o que ela sente, o que precisa, como gostaria de ser tratada, o que quer escolher, o que é seguro e o que não é, sem que uma autoridade externa lhe apresente uma solução pré-definida.


Apresentar uma solução pronta, é totalmente contrário à lógica de criar novos futuros, à abertura para um novo que ainda não conhecemos e que só descobriremos se pudermos sonhar juntos, falar sobre e refletir sobre nossas práticas para alcança-lo. E esse á um aprendizado também para a pessoa que conduz a prática. Como diz Paulo Freire, o educador aprende ao ensinar e o educando ensina ao aprender.


Quando a pessoa que facilita ou acompanha processos de autoconhecimento não tem essa vivência ou esse estudo profundo dessas bases, pode facilmente fazer uma leitura falha, perpassada por pré-conceito, influências socioculturais e interferências de seu sistema de crenças e valores.


A prática da CNV tem o propósito de libertar pessoas de situações de opressão, e para isso é necessário um estudo profundo de como esses sistemas funcionam (machismo, racismo, gordofobia, etarismo, homofobia, misoginia, etc), não é uma técnica para ensinar pessoas a falarem de um modo que não incomode, nem para ensinar pessoas a sustentar o insustentável. O objetivo é exatamente o oposto: nomear essas vio.lências normalizadas e encontrar outros modos mais orgânicos de conviver.


Marina De Martino Facilitadora de Grupos de Comunicação Não-Violenta e Justiça Restaurativa Atendimentos individuais, casais, famílias, escolas, empresas, ongs #cnv #comunicacaonaoviolenta#justiçarestaurativa #dialogo#cooperacao #jogoscooperativos#mediacaodeconflitos #educacaoemocional#educacao #pedagogia #psicologia #psicopedagogia #terapia #autoconhecimento #servicosocial #recursoshumanos#treinamento #saudemental#culturadepaz #assertividade#relacionamento #convivencia#diversidade #feminismo #sustentabilidade #responsabilidadesocial#qualidadedevida

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