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Foto do escritorMarina De Martino

Como a monocultura nos prejudica

Atualizado: 3 de jul. de 2023

Quais são as vozes que você escuta?

A prática da Comunicação Não-Violenta explora a forma como estabelecemos relacionamentos em 3 dimensões: intrapessoal (eu comigo mesma), interpessoal (eu com o outro) e sistêmica (eu com o sistema sociocultural).


A dimensão sistêmica é uma das mais desafiadoras em se abordar, pois ela está relacionada ao reconhecimento e enfrentamento das violências estruturais, aqueles desequilíbrios que se dão nas relações de modo mais amplo e difuso, e que muitas vezes estão tão normalizados que é difícil inclusive nomeá-los e percebe-los como uma situação de violência.


Então, antes de continuar o texto de hoje eu vou te convido a fazer um pequeno exercício com o foco nessa perspectiva sociocultural. Eu vou listar algumas categorias e você pensa no das pessoas representantes dessas categorias que você mais admira:


Na música

No cinema/teatro

Nas artes plásticas

Na ciência

No esporte

Na espiritualidade/religião

Na política

Na literatura/filosofia


Agora eu te pergunto: quantas pessoas da sua lista são homens, pertencentes ao eixo Estados Unidos-Europa?

Quanto de diversidade de culturas, experiências pensamentos, leituras de mundo você tem se permitido conhecer, escutar, valorizar?


Você acredita que algumas pessoas ou experiências são mais valiosas que outras? Quais são elas?

Em minha formação acadêmica eu percebo muito dessa influência da cultura dos Estados Unidos e Europa e isso pode ser problemático. Não quero dizer que o que vem de lá seja ruim, o problema é a monocultura, a invisibilidade ou inferiorização de outras vozes e possibilidades.


Eu comecei a me dar conta desse processo uma vez em que fui fazer um curso sobre Cultura de Paz e uma das atividades propostas era a gente fechar os olhos e tentar se lembrar de fatos relevantes da história do mundo. De repente eu percebi que eu poderia me lembrar da história de diversos países, mas da África, eu praticamente não tinha outras referências além do processo de escravização.


Aí me perguntei, mas e na faculdade de Letras? Eu estava me formando como educadora, seria importante ter tido essa sensibilização para a diversidade, mas também não aprendi nada sobre língua e literatura africana, apesar de termos países na África que falam português! Também não aprendi nada sobre as culturas indígenas que também influenciaram nossa língua e literatura.

A partir de então, esse processo de desvalorização antes tão normalizado começou a gritar diante dos meus olhos e eu comecei a perceber outras situações em que isso acontecia.


Eu estava com um baralho de frases e citações inspiracionais de pessoas famosas. Aí me chamou a atenção a quantidade de frases de homens e poucas de mulheres. Só para tirar a dúvida, eu separei as cartas e fiz a contagem. Menos de 20% eram frases de mulheres... e o mais curioso, as frases dos baralhos foram selecionadas por uma mulher!


Será que as mulheres escrevem menos? São menos competentes? Ou desvalorizamos as suas produções? Será que mesmo entre nós, mulheres, o machismo nos induz a não valorizar as produções de outras mulheres?


Aí fui olhar meu trabalho de conclusão de curso da faculdade de Pedagogia, sorte eu estava no meio do processo de escrita, diante disso, atentei para as referências bibliográficas que eu estava utilizando, quantas obras de mulheres eu estava citando e se eu estava utilizando referências de autores e autoras de outras culturas e etnias além do eixo Estados Unidos e Europa. Certamente meu TCC e meus aprendizados ficaram mais ricos e interessantes depois dessa reavaliação.


Esse processo de descolonização dos nossos olhos, ouvidos e mente é longo e trabalhoso, mas é um pequeno passo, dentre muitos outros, que nos permite sair da nossa bolha sócio-cultural, ampliar horizontes, conhecer experiências diferentes das nossas e assim quem sabe abrir cada vez mais espaço de escuta e consideração para aquelas vozes que são historicamente desvalorizadas e ignoradas.


Para essa semana sugiro que você entre em contato com uma obra de algum autor ou autora fora do eixo Estado Unidos-Europa, pode ser uma música, um livro, um poema, um filme...

O que você acha dessa ideia? Como ela pode contribuir para o seu aprendizado e desenvolvimento?

Como você poder contribuir para apoiar e divulgar a obra dessas pessoas?


Marina De Martino

Facilitadora de Comunicação Não-Violenta e Justiça Restaurativa


Saiba mais sobre a Comunicação Não-Violenta em minhas paginas

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