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Elogios podem ser violentos?


Quando eu trabalhava como professora no ensino fundamental, eu tive um aluno que tinha um grau de inteligência visivelmente maior que a média das outras crianças.

Ele sempre se saía bem nas provas, exercícios, etc. e também era um ótimo jogador de futebol.

Mas aí aconteceu que quando eu propunha alguns jogos em sala de aula, ele não queria participar, eu achava bem estranho, mas ok, se não quer brincar, é escolha dele.

Certa vez ele chegou para mim e falou bem baixinho, “prô, eu vou te contar um segredo de porque eu não quero jogar, é que eu não gosto de perder”.


Claro que perder é chato, nos coloca em dinâmicas como competição, comparação, nos faz perceber com clareza nossos limites e nos faz entrar em contato com sentimentos desconfortáveis como frustração, decepção, vergonha...

Esse é um dos grandes benefícios do uso dos jogos na educação, eles ensinam não apenas habilidades lógico-matemáticas (jogos de tabuleiro) ou espaciais (quando são jogos corporais), eles ensinam principalmente sobre socialização e gestão emocional.


Veja bem, no caso do meu aluno o desafio era ainda maior por conta de um detalhe: ele estava acostumado a “ganhar” sempre em outras situações, todos o elogiavam porque ele era inteligente, esperto, sagaz... de certa forma, ele se sentia “obrigado” a corresponder a esse rótulo (esse é um bom exemplo de rótulos supostamente bons também causam danos), e por conta disso era levado a entrar em comparação / competição não apenas com os colegas, mas consigo mesmo, tendo que ser sempre bom, sempre o melhor, em relação aos seus resultados passados. É uma prisão.

Aí você pode me perguntar: mas e no futebol, ele também não tinha que lidar com esses sentimentos quanto perdia? No futebol joga-se em grupo, o erro ou fracasso dele não ficava tão evidente como em um jogo individual.


Quanto ao meu aluno, meu papel foi auxili-alo, com uma linguagem adequada à idade dele, a reconhecer essas dinâmicas e também a entrar em contato de forma mais acolhedora com os seus sentimentos.


Porém deixo aqui algumas reflexões:

De que forma os elogios positivos e negativos influenciam a forma como você se relaciona consigo mesmo e com os outros hoje?

O quanto você tem competido consigo mesmo, se apegando à obrigação corresponder a uma imagem idealizada e imutável de si mesmo?


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