A troca de uma letra pode gerar uma memória trágica que dura a vida toda.
Eu estava na terceira série, devia ter uns 8 anos, estávamos aprendendo a escrever e a conjugar o verbo fazer. Neste processo, era provável que algumas vezes escrevêssemos algo errado, como trocar inocentemente uma letra de alguma palavra, sem nos darmos conta do perigo que corríamos.
Pois bem, me lembro que um menino chamado Rodrigo cometeu o crime, talvez hoje ele nem se lembre mais desse incidente, mas isso me marcou profundamente, pelo absurdo, pela falta de respeito e de empatia com as crianças em processo de aprendizagem. A professora, que costumeiramente já agia de modo bem desequilibrado (importante considerar as condições de trabalho em que ela se encontrava, ambiente já hostil e sem apoio prático e emocional), gritava a plenos pulmões, de forma que o quarteirão inteiro pudesse ouvir: você não tem respeito ou será que você não sabe o que está escrevendo? Você sabe o que é fezes???? Não??? É cocô!!!!
A que absurdos expomos as crianças? o que seria impensável no jardim da infância, passa a ser normal na segunda infância, entre os 7 e 13 anos, época da pré-adolescência. Ninguém deveria se sentir acuado, com medo de errar, em um ambiente de aprendizagem. Um ambiente real de aprendizagem acolhe e celebra o erro, pois é uma das melhores oportunidades para aprender e nunca mais esquecer.
Até mesmo se o menino tivesse escrito de forma errada conscientemente para perturbar a aula e fazer graça, esse também poderia ser uma oportunidade para conversar e entender o que ele precisava, dando o exemplo de como corrigir um comportamento de forma respeitosa, permitindo que ele elaborasse estratégias para atender suas necessidades de um modo mais funcional para ele e para o grupo.
Exigimos que as crianças não errem e se comportem como adultos. Adultizamos e erotizamos crianças, elas passam a ser mini adultos. Mas não exigimos que os adultos se comportem como adultos, oferecendo para as crianças, modelos de como regular suas emoções, resolver conflitos sem uso de violência ou punição, diferenciar o que é uma relação respeitosa e o que é uma relação abusiva...
É muito importante alimentarmos uma cultura de educação que permita que as crianças identifiquem com clareza o que é cuidado e o que é violên.cia, sem que elas tenham que se preocupar em ser “fortes” e “resistentes” porque o mundo lá fora é duro, afinal se elas não conhecerem a referência do que é respeitoso amoroso, como poderão fazer essa diferenciação?
As crianças vão ter a vida inteira para ser adultos, mas só vão ter esse tempo precioso da infância por uns poucos anos.
Marina De Martino Facilitadora de Grupos de Comunicação Não-Violenta e Justiça Restaurativa Atendimentos individuais, casais, famílias, escolas, empresas, ongs #cnv #comunicacaonaoviolenta #justiçarestaurativa #dialogo #cooperacao #jogoscooperativos #mediacaodeconflitos #ansiedade #educacaoemocional #pedagogiadacooperacao #psicologia #psicopedagogia #terapia #autoconhecimento #servicosocial #recursoshumanos #dancacircular #assertividade #autoestima
O que as crianas dessa idade consomem que é voltado às crianças
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