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Quem faz o trabalho emocional na sua casa?




As infinitas tarefas domesticas, lavar, cozinhar, arrumar, varrer, etc. são um fardo constante na vida de muitas mulheres e apesar de serem cuidados indispensáveis, que sustentam e mantém a vida, a beleza e a saúde de nossos corpos e ambiente, ainda não são devidamente reconhecidas e remuneradas.


Dentre todas essas tarefas, existe uma que infelizmente nem chega a ser considerada como um aspecto importante de manutenção da vida: o trabalho emocional.


Qu­em faz o trabalho emocional na sua casa?


Pensando nas estruturas patriarcais que ainda influenciam a forma como estabelecemos nossas relações e educamos nossas crianças, em geral o trabalho de cuidado e o mundo das emoções e sentimentos fica destinado às mulheres.

O quanto a ideia de que homem não chora, homem não tem medo, etc., ainda faz parte das nossas referências? Nesse contexto, além do mundo das emoções ser associado às mulheres, ele é interditado aos homens, que devem ter uma postura mais fria e racional.


Nossa cultura valoriza tanto a razão em detrimento dos sentimentos, tidos como algo desnecessário, sinal de fraqueza, que que muitas mulheres, para se adequar, também se recusam a entrar em contato com eles ou não sabem como fazê-lo. E o que acontece é uma situação de negação das emoções. Ninguém, nem os homens, nem as mulheres, conseguem nomear nem acolher o que sentem e consequentemente, não tem como prover a educação emocional das crianças.


Porém, negar um sentimento ou a importância desse trabalho de cuidado emocional não faz extinguir sua demanda. Os sentimentos continuam lá, ora causando alegria, tranquilidade, risos, ora causando desordens e tensão.


Quando os adultos da família não dão conta de fazer esse trabalho, é possível que um dos filhos assuma esse papel, o que pode ser bem nocivo, afinal, uma criança ainda está desenvolvendo sua estrutura emocional e suas habilidades de lidar com os sentimentos.


Eu passei por isso em minha história de vida e só depois de muitos anos de terapia entendi o peso que fora depositado sobre mim e também ouvi relatos semelhantes de outras mulheres.

No meu caso, eu e meus pais moramos durante muitos anos com minha avó materna. Quando ela faleceu, minha mãe ficou muito abalada e meu pai também. Eu me afastava de casa por não suportar o clima pesado, triste e a desestrutura. Foi quando meu pai veio de cobrar " você não está consolando a sua mãe" . Foi aí que eu percebi algo estranho, mas que ainda não sabia nomear. Eu não estava consolando a minha mãe porque não tinha condições de fazê-lo. Mas e meu pai? Por que ele não poderia consola-la? Por que tinha que ser eu?


Depois ouvi histórias semelhantes de outras mulheres. Uma delas contando que os pais brigavam muito e que ela sempre buscava um jeito de "impedi-los" de brigar, tentando mediar, chamando a atenção para si, sendo boazinha, etc...


Uma outra mulher me contou que após uma profunda depressão e um doloroso processo terapêutico, entendeu que ela estava responsável por cuidar emocionalmente do pai, da mãe e do irmão e o quanto isso era pesado e exauria suas forças e disponibilidade para cuidar de suas próprias questões.


Ouvindo essas histórias e refletindo, percebi como essa dinâmica recai ainda com mais força sobre as filhas, pois em muitas famílias cuja estrutura patriarcal ainda é muito forte, o trabalho que a mãe não dá conta de fazer acaba sendo assumido mesmo que de forma inconsciente pelas filhas, o que torna o aprendizado do trabalho emocional para todos, homens e mulheres algo de extrema relevância.


Como seria uma família em que cada membro adulto tivesse a habilidade de cuidar de suas emoções e de cuidar das emoções das crianças?


Marina De Martino

Facilitadora de Comunicação Não-Violenta e Justiça Restaurativa


Saiba mais sobre a Comunicação Não-Violenta em minhas paginas

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Site - www.comunicacaoecooperação.com



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