Esse é o resumo de um texto maior do Marhsall Rosenberg, em que ele nos conta sobre um episódio de raiva incontrolável que ele teve, e como ele lidou com a situação.
Eu gosto muito deste texto, pois no mostra que até mesmo o Marshall, que era treinado consistentemente em escuta e empatia, também tinha momentos de dificuldade em lidar com seus sentimentos.
Também podemos observar outros aspectos interessantes, como a dificuldade que ele também tinha (assim como a maioria de nós, em falar "não" para certos pedidos), como a sobrecarga de trabalho e outras atividades compromete nossa gestão emocional e nos induz a sermos violentos, e também a postura dele em relação aos filhos após errar: ele volta, reconhece que sua atitude não foi respeitosa e se retrata.
"Era um domingo de manhã. O único dia da semana em que eu poderia relaxar. Um tempo muito precioso para mim.
Neste específico domingo de manhã, um casal me ligou e perguntou se eu poderia atendê-los. Eles tiveram uma crise em seu relacionamento e queriam que eu trabalhasse com eles.
Eu concordei com isso sem verificar dentro de mim quais eram as minhas reais necessidades e como eu estava sentindo a intrusão deles no meu tempo de descanso.
Enquanto eu estava com eles na sala, tocaram a campainha. Era um policial trazendo uma jovem mulher para me ver. Eu já tinha atendido ela anteriormente e os policiais a encontraram sentada sobre os trilhos do trem.
Este era a forma dela me dizer que ela precisava falar comigo. Ela era muito tímida para me ligar e agendar uma sessão. Este era o seu jeito: sentar nos trilhos do trem para me informar que ela estava em sofrimento. Ela conhecia muito bem os horários dos trens, melhor do que qualquer pessoa na cidade, então ela sabia que os policiais a encontrariam antes de o trem atingi-la.
Quando o policial saiu, eu estava com esta jovem mulher chorando na cozinha e com o casal na sala e eu estava tentando retomar o atendimento amorosamente com ambos.
E enquanto eu estava fazendo isso, andando de uma sala para outro, olhando no meu relógio, na esperança de ter algum tempo para mim mesmo após isso, meus 3 filhos começaram a brigar no andar de cima.
Então eu subi as escadas, e eu descobri algo fascinante. Eu deveria escrever isso em um artigo científico algum dia: o efeito da altitude sobre o comportamento maníaco.
Porque, veja bem, no andar de baixo eu era uma pessoa muito amorosa, dava amor para o casal, dava amor para a jovem mulher na outra sala, mas um lance de escadas acima e eu era um maníaco.
Eu disse para meus filhos: “Qual é o problema com vocês? Vocês não percebem que eu estou com pessoas em sofrimento lá embaixo? Vão direto cada um para o seu quarto! ”
E cada um deles foi para seu quarto e bateu a porta suficientemente alto, de uma forma que eu não poderia duvidar que era uma porta batendo. E quando isso aconteceu da primeira vez eu fiquei indignado, e da segunda vez, mais ainda. Mas felizmente, na terceira vez, eu não sei porque, isso me ajudou a perceber o humor nesta situação. O quão fácil era para mim ser amoroso com as pessoas lá embaixo, mas quão rapidamente eu poderia ser brutal com minha própria família no andar de cima.
Eu respirei profundamente e fui ao quarto do meu filho mais velho e disse para ele que eu estava triste pelo fato de eu estar despejando sobre ele sentimentos que na realidade eram relacionados com as pessoas que estavam lá embaixo.
(E assim com os outros 2 filhos) (...)
Eu frequentemente digo aos pais que eu estou trabalhando com o inferno que é ter filhos e pensar que há uma coisa como “ser um bom pai”.
Se toda vez que nós formos menos que perfeitos, nós nos culparmos e nos atacarmos, nossas crianças não vão se beneficiar com isso. A meta que eu sugiro é não ser “pais perfeitos”, é se tornar progressivamente pais menos estúpidos – por aprender a cada momento em que nós não formos capazes de dar às nossas crianças a qualidade de entendimento que elas precisam, em que nós não formos capazes de nos expressar honestamente. Na minha experiência, cada um desses episódios usualmente significa que nós não estamos tendo o suporte emocional que nós precisamos, para poder dar às nossas crianças aquilo que elas precisam.
Nós só podemos realmente dar de um modo amoroso na mesma proporção em que estamos recebendo amor e entendimento. Então, eu recomendo fortemente olharmos como nós poderemos criar uma comunidade de suporte como nossos amigos e outros, que possa nos dar o entendimento que nós precisamos para estar presente para nossas crianças de um modo que seja bom para elas e bom para nós."
(Traduzido do livro Raising Children Compassionately – Marshall Rosenberg).
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