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Marshall Rosenberg queria matar um homem

Esse é o resumo de um texto maior do Marhsall Rosenberg, em que ele nos conta sobre um episódio de raiva incontrolável que ele teve, e como ele lidou com a situação.

Eu gosto muito deste texto, pois no mostra que até mesmo o Marshall, que era treinado consistentemente em escuta e empatia, também tinha momentos de dificuldade em lidar com seus sentimentos.


"Então, certa vez eu estava em um taxi.

Era de manhã, cedo, e havia outra pessoa comigo no taxi. Ele tinha nos pegado no aeroporto e nos levaria até o centro da cidade. Foi quando nós ouvimos pelo radiotransmissor do carro: “pegar o senhor Fishman na sinagoga na rua tal e tal.”

E o homem sentado perto de mim disse “esses kikes (temos pejorativo para se referir aos judeus) acordam tão cedo de manhã e atrapalham todo mundo com o seu dinheiro.”

Eu tinha fumaça saindo pelas minhas orelhas, é verdade, porque demoraria muito menos para despertar o maníaco dentro de mim.

Por muitos anos minha primeira reação seria ferir fisicamente esta pessoa.

Então, por aproximadamente 20 minutos eu tomei uma profunda respiração e dei a mim mesmo alguma empatia por toda ferida, medo, ira e tudo mais que estava se passando comigo. Ok, então eu ouvi aquilo. Eu estava consciente que a minha raiva não estava vindo dele; não estava relacionada com aquilo que ele falou. Minha raiva, a profundidade do meu medo, não poderia ser estimulada por aquele tipo de fala. É uma origem mais profunda do que isso.

Eu sei que não tinha nada a ver com o que ele falou, aqui apenas disparou em mim um desejo de explodir como um vulcão.

Então eu recostei-me e apenas desfrutei daqueles julgamentos passando pela minha cabeça. Eu desfrutei das imagens que me sugeriam pegar a cabeça dele e esmaga-la.

E depois, as primeiras palavras que saíram da minha boca foram: “você está sentindo e precisando?” Eu queria empatizar com ele. Eu queria ouvir a dor dele. Por que?

Porque eu queria que ele entendesse. Eu queria que ele soubesse o que se passava comigo quando ele disse aquilo. Mas eu aprendi que se eu quero aquele tipo de entendimento sobre o que se passa comigo, a outra pessoa não poderá ouvir-me se ela tiver uma tempestade dentro de si.

Então, que quero conectar e mostrar uma empatia respeitosa pela energia de vida que se manifesta através daquele comportamento. Minha experiência me ensinou que após eu fazer isso, ele estará mais apto para meu ouvir.

Então eu disse: “parece que você teve algumas experiências ruins com os judeus”. Ele olhou para mim e disse: “sim, você sabe, estas pessoas são nojentas, fazem qualquer coisa por dinheiro”.

“Parece que você tem um monte de desconfiança e precisa se proteger quando você está negociando com eles?”

“Sim.”

Então ele continuou falando e eu continuei ouvindo os sentimentos e as necessidades dele.

Agora, você sabe, quando nós colocamos nossa atenção nos sentimentos e necessidades da outra pessoa, não há conflito. Quando eu ouço que ele está com medo e quer proteger a si mesmo, eu também tenho essas necessidades. Eu tenho a necessidade de me proteger. Eu sei o que é estar com medo.

Quando minha consciência está nos sentimentos e necessidades de outro ser humano, eu vejo a universalidade de toda nossa experiência. Eu tenho um grande conflito quando o que está na cabeça dele, o jeito dele pensar. Mas eu aprendo que eu aproveito muito mais a companhia de outros seres humanos quando eu não ouço o que eles pensam.

Eu aprendi, especialmente com essas pessoas que mantém este tipo de pensamento, que eu posso desfrutar a vida muito melhor se eu ouvir o que se passa em seu coração e não ser aprisionado pelo que se passa em suas cabeças.

Então, após um tempo, este homem estava realmente derramando sua tristeza e frustração. Antes nós sabíamos que ele não gostava de judeus e agora ele se referia aos negros e a outros grupos. Ele tinha um monte de dor em vários aspectos.

E então, depois de 10 minutos em que eu apenas o escutei, ele parou. Ele se sentiu entendido. E então eu deixei ele saber o que se passava comigo. Eu disse

“você sabe, quando vcê começou a falar eu senti um monte de frustração e desencorajamento, porque que tenho uma experiência muito diferente com os judeus, e eu realmente queria que você tivesse mais experiências como as que e tive.

Você poderia me dizer o que você me ouviu falar?

“Sim, veja, eu não estou dizendo que eles são todos...” eu disse: “me desculpe. Espere, espere. Você poderia me dizer o que você me ouviu falar?”

“sobre o que você está falando?”

“deixe-me dizer de novo o que eu estou tentando dizer. Eu quero que você ouça, realmente ouça a dor que eu sinto quando eu ouço as suas palavras. É muito importante para mim que você ouça isso. Eu disse que eu tenho um verdadeiro sentimento de tristeza porque eu tive uma experiência com os judeus foi muito diferente da sua e que estava desejando que você pudesse ter uma experiência dferenta daquela que você teve.

Você pode me dizer o que você ouviu?

“bem, você me disse que eu não tenho o direito de dizer aquilo”.

Eu repliquei: “não, realmente eu não quero culpar você. Realmente, eu não tenho nenhum desejo de culpar você”.

Veja, em qualquer nível, ele ouvia acusação, ele não estava entendendo.

Se ele tivesse dito “o que eu disse foi uma coisa terrível, eu não deveria ter feito isso”, ele ainda não teria entendido. Se ele ouvisse que ele fez alguma coisa errada, ele não teria entendido. Eu quero que ele ouça a dor que passa pelo meu coração quando ele diz aquilo. Eu quero que ele quais são as minhas necessidades que não são atendidas quando ele faz aquilo. É tão simples.

Então, nós temos que trabalhar para isso – nós temos que puxar as pessoas que julgam pelas orelhas. Aqui está o porquê: pessoas que julgam não estão acostumadas a ouvir sentimentos e necessidades. Eles estão acostumados a ouvir acusação e então eles também concordam e odeiam a si mesmos, o que não faz com que eles parem de se comportar daquele modo, ou eles te odeiam porque vocês os chamou de racista, o que não faz com que eles mudem de comportamento.

Então, o que eu quero dizer com ouvir as necessidades dela para conseguir isso. Você deve ouvir a dor dela primeiro."

(Marsahll Rosenberg - O surpreendente propósito da raiva)

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