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Você tem dificuldade de receber amor?

Atualizado: 3 de jul. de 2023

Eu tinha acabado de chegar em Paris com o Chris (hoje meu ex-companheiro), e depois de quase um ano de namoro, eu finalmente ia conhecer os amigos, a família, o país e a cultura dele.

Era uma fase de muita celebração e também de uma certa insegurança para mim: fazia apenas alguns meses que eu tinha deixado meu trabalho concursado Banco do Brasil, eu ainda não sabia muito bem como ia ficar minha saúde financeira e tinhas 3 meses pela frente para ficar na Europa!

Eu queria tomar cuidado com as finanças e uma das minhas estratégias era evitar comer em restaurantes, afinal a gente podia cozinhar em casa e economizar.


Mas naquele dia de celebração em que tínhamos assinado o termo de união estável o Chris queria que a gente fosse comer comida francesa, que esse almoço seria um presente de casamento e assim caminhamos em meio aos restaurantes turísticos de Saint Michel, eu com certa resistência e tentando escolher o mais barato...


Aí então ele me disse: você está tendo uma oportunidade incrível de realizar seu sonho de conhecer a França, hoje é um dia especial na sua vida, eu quero te dar isso de presente, você pode escolher o que você quiser, por que você não consegue receber?”.


Foi um momento bem importante, acho que o maior presente não foi o almoço, mas foi essa pergunta que ainda reverbera em mim e me faz ficar atenta para outras situações em que eu estou escolhendo menos, seja por acreditar que não mereço, que não preciso de tanto, que é errado querer demais, que não tem o suficiente, que vai faltar no futuro...


Me lembrei de uma outra vez que minha mãe queria me dar um celular de presente e eu insistindo que queria um mais barato quando ela queria me dar um melhor.


Comecei a observar situações com amigos também, às vezes esse escolher o menos está relacionado a coisas materiais como um almoço ou um celular, às vezes está relacionado a dinâmicas mais abstratas: será que a dificuldade em se envolver, em se apaixonar, em se vincular, em se comprometer não vem desse lugar de não se permitir receber amor? Um dos parceiros está lá disponível, tem tanto carinho, companhia, atenção para doar, sonhos para compartilhar, ideias para trocar e o outro não recebe...ou nos oprimimos fazendo escolhas que nos privam e nos estressam e acreditamos que é o relacionamento ou o próprio parceiro que nos impõe essas limitações...


Um dos aprendizados mais importantes dentro da Comunicação Não-Violenta é identificar e pedir o que precisamos, pois a dificuldade em fazer pedidos claros e específicos pode resultar em diversos conflitos e ruídos em nosso relacionamento intrapessoal (conosco mesmo) e interpessoal (com os outros).


Ao fazermos pedidos com clareza, damos ao outro a oportunidade de saber como contribuir conosco, mas também nos mostramos vulneráveis, pedirimplica reconhecer que não somos autossuficientes, o que pode ser bem desafiador em uma cultura que valoriza a individualidade e a competição.


Eu percebo ainda que essa dificuldade não está só no ato de pedir, é algo mais amplo, pois muitas vezes não nos permitimos sequer sonhar ou desejar algo que possa ser mais gostoso, mais rico, mais bonito, mais divertido, mais saboroso, enfim, tornar nossa vida mais maravilhosa, como dizia Marhsall Rosenberg.


Será que nos acostumamos tanto a não ter que quando podemos escolher viver com mais qualidade, mais amor, mais entusiasmo continuamos escolhendo menos?


Marina De Martino

Facilitadora de Comunicação Não-Violenta e Justiça Restaurativa


Saiba mais sobre a Comunicação Não-Violenta em minhas paginas

Facebook e Instagam - Marina De Martino CNV

Site - www.comunicacaoecooperação.com



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